segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Perseverança ou Persistência?


Certa vez, conversando com meu pai, entramos nessa questão de quando será que devemos perseverar em algo e quando devemos admitir que estamos dando murro em ponta de faca. Desde já peço perdão por distinguir a perseverança da persistência, talvez uma seja sinônimo da outra, mas aqui vou separar as ovelhas das cabras. O primeiro é nobre e o segundo é sinônimo de teimosia (no pior sentido mesmo).

Bom, vamos lá. Vou começar com a persistência e para isso, vou contar uma história. Mas antes, não quero tirar o mérito de que tudo o que acontece, acontece por um motivo e uma razão, mesmo que a razão seja, pura e simplesmente, para dar o exemplo do que não se deve fazer. Agora vamos para a história. Lamento informar que é baseada em fatos reais. Algumas modificações foram realizadas para preservar a identidade de seus autores.

Era uma vez um rapaz que queria muito ter um animalzinho de estimação. Só que esse rapaz tinha um histórico muito interessante de desequilíbrio emocional e falta de responsabilidade. Ninguém achava um boa ideia ele ter um cãozinho. Porém, passados uns bons anos, e depois de muita briga, ele conseguiu o seu tão esperado filhotinho. Não muito tempo depois, o cãozinho, coitado, acabou sendo uma válvula de escape de suas frustrações, sem contar de negligência. Os vizinhos, muito indignados e compadecidos pelo bichinho, o denunciaram para uma entidade que resgataram o pobre animal (o cachorro, tá?). Além disso, familiares e amigos se certificaram que o rapaz não adquirisse nenhum outro animal.

Por hora vou parar por aqui, pois quero dar um exemplo de perseverança antes de passar para os pontos mais importantes dessa reflexão. A história a seguir também é baseada em fatos reais e está relatada no primeiro capítulo do primeiro livro de Samuel, na Bíblia.

Existia uma mulher chamada Ana que queria muito engravidar, mas não podia. Isso a entristecia demais da conta, ela mal comia ou dormia, o choro era o único alimento dela. Ana orava bastante, pedindo um filho, mas certa vez ela estava tão angustiada que fez um voto com Deus: “Se me der um filho, ele vai trabalhar para o Senhor, na Sua casa”. Depois dessa oração, parece que Ana tirou um peso enorme das costas. Ela se sentiu melhor, foi comer e adivinha só? Depois de um tempo teve um lindo menininho, que assim que adquiriu uma certa idade foi trabalhar no templo, virou profeta, gente importante e um instrumento absurdamente edificador na história do povo de Israel.

Agora vamos as considerações. Como é que eu vou saber quando eu estou sendo perseverante e quando estou sendo persistente (cabeçudo, teimoso)? Seguem os pontos importantes:

1. A persistência visa os seus próprios interesses, é egoísta, enquanto a perseverança é altruísta, não tem um fim em si mesmo, mas sempre irá servir um propósito maior. Vamos pegar o exemplo do cãozinho. Talvez o desejo em tê-lo era o de tentar tapar algum buraco emocional, ou mesmo ter aonde descontar tudo de ruim que havia no rapaz (mesmo que de forma inconsciente e não intencional). Já Ana, nem sequer desfrutou da adolescência, não viu seus netos. O fato de saber que geraria alguém que seria uma grande benção  pra tanta gente já era o suficiente.

2. A perseverança traz legado, a persistência fica pra semente. Quando você deseja algo que permanecerá mesmo depois de você ter partido, já é um indício forte que o caminho correto seja perseverar. A persistência serve um fim egoísta não gera frutos, não agrega, não é algo que alguém queira dar continuidade. Ela serve a vontade de quem a deseja e depois morre aí. Visa um fim em si mesmo.


3. Por último, mas não menos importante. A perseverança traz motivação e alegria. O choro de Ana acabou quando ela anunciou o ponto 1 e o ponto 2. “Não é por mim e nem pra mim”. A perseverança, quando alcançada traz satisfação e uma sensação de realização. Já a persistência é cega, não traz paz. É uma paixão que desafia a coerência e a razão. É uma fome que não se sacia mesmo quando alcança o seu objetivo. Sabe aquela sensação de “eu deveria estar feliz e realizado agora que consegui, mas não estou...”?

Não sei se você tem vivido esse dilema ou se o caminho a sua frente é bem nebuloso, mas espero que essa reflexão te ajude a encontrar um norte. Sonhe, tenha planos, mas não deixe de refletir sobre cada um deles. Tudo bem desejar algo para si, não tem problema nenhum. Apenas atente para o que se deve lutar e o que se deve entregar e tocar o barco.

Grande abraço e até a próxima.