quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Misericórdia!


"...porque a Sua misericórdia dura para sempre." (Salmos 136)

Quem me conhece sabe que eu não gosto de repetição. Sim, cânticos e músicas que repetem o refrão ou uma frase 548 vezes, chega uma hora que eu nem canto mais. Vira mantra e não curto mantras. Sabe por que? Porque eu não gosto de repetição.

Sempre que eu lia o Salmo 136 eu ia pulando essa parte de cada versículo, porque essa frase se repete em todos os 26 versículos desse Salmo. Eu pensava "que coisa! Deus já entendeu". Porém, semana passada esse texto estava na minha leitura diária e lá vamos nós de novo. Só que dessa vez, pacientemente eu li todas as vezes e bem pausadamente. Tudo bem, passou.

Nessa semana ouvi uma oração que dizia, "Senhor, tem misericórdia de nós...", e aí me veio imediatamente na cabeça: "Mas a misericórdia Dele dura para sempre!". Tipo assim, não sou eu que estou repetindo, é Deus quem está falando incessantemente para me lembrar que a Sua misericórdia dura para sempre. É Dele pra mim e não o contrário.

Deus não só é eternamente misericordioso, mas Ele renova as Suas misericórdias a cada manhã porque Ele sabe o quanto precisamos, o quanto não somos nada sem o Seu amor, perdão, cuidado e tudo isso se resume nessa palavra: misericórdia.

Queria compartilhar esse pensamento porque sim, ué. Espero que fale ao seu coração também.

Beijão.
Ly ❤️

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Setembro Amarelo - Um olhar cristão para os cristãos


Chegamos ao mês de setembro, o mês de conscientização e prevenção ao Suicídio. Mas por que amarelo para definir esse mês? Em 1994 o jovem norte americano, Mike Emme tirou a própria vida, dirigindo o seu carro amarelo; no seu funeral, amigos e familiares distribuíram cartões com fitas amarelas com mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando as mesmas dificuldades.

Como cristãos que não (ou ainda não) passamos por tamanho desespero, podemos pensar: Até que ponto a pessoa pode chegar frente ao desespero, angústia e tamanha aflição? Antes de responder, precisamos lembrar que a tristeza está presente em muitas passagens bíblicas e conhecemos homens de fé que tiveram o mesmo anseio de terem as suas vidas interrompidas.

Em Números 11.11 Moisés, frente ao excesso de trabalho e as recla mações do povo, pede para que Deus dê fim a sua existência: “Se assim me tratas, mata-me de uma vez, eu te peço, se tenho achado favor aos Teus olhos; e não me deixes ver a minha miséria”. Em Jó 7.16, depois de uma mudança drástica de vida, do seu estado de saúde e depois de tantas perdas, Jó desabafa: “Estou farto da minha vida; não quero viver para sempre. Deixa-me, pois, porque os meus dias são um sopro”.

Jonas, indignado com a remissão de um povo que ele julgava indigno de perdão, se revolta ao ponto de também desejar a morte: “Peço-te, pois, Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver” (Jonas 4.3). Elias, sofrendo  perseguição depois de ter enfrentado os profetas de Baal, sente-se sozinho, temeroso e desamparado, também deseja a morte: “Basta, toma agora Senhor a minha alma” (I Reis 19.4).

Observe como cada um teve um motivo diferente para desejar a própria morte. Isso nos fala bastante, pois muitas vezes julgamos apenas por um ponto de vista, por exemplo: “foi covardia, foi fraqueza, foi egoísmo”. Como é importante um olhar de empatia frente as pessoas que sofrem das mesmas aflições que pessoas na bíblia, homens de Deus e profetas sofreram. Qual atitude Deus espera que tenhamos? Conhecer o que está acontecendo é o primeiro passo a se dar.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde e dados estatísticos do Centro de Valorização da Vida, a maioria dos casos de suicídio são decorrentes de quadros de doença mental. A enfermidade mental ou emocional também é uma mazela que muitos enfrentam nesse mundo decaído pelo pecado; mas elas se igualam a quaisquer enfermidades de outra natureza e devem ser tratadas como tal. Em Tiago 5.13 diz que, se há alguém entre nós em enfermo, ore! “E a oração da fé salvará o doente e o Senhor o levantará”.

Tenha uma escuta acolhedora, a tristeza que é silenciada adoece a alma. Paulo instruiu a igreja de Tessalônica e Romanos diversas vezes quanto ao consolo mútuo entre os irmãos: “Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente” (I Tes. 5.11), “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” (Romanos 12.15). Além de diversos outros textos de exortação ao amor fraternal.

Muitas vezes simplificamos ou diminuímos o sofrimento do nosso próximo entregando uma solução rápida ou resumindo a situação à falta de temor a Deus. No momento em que essasp pessoas mais precisam ser abraçadas, ouvidas e compreendidas, uma atitude assim tende a afastar ainda mais, não apenas do seu convívio social, mas até mesmo de sua fé. Você pode revelar o cuidado e o amor de Jesus nessas vidas através das suas atitudes. Veja como Jesus agia frente a diagnósticos errôneos de seus discípulos: “E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (João 9.2-3).

Deus tem um propósito maior por detrás de tamanho sofrimento, Jó no final de tudo, afirma: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5). Auxilie essas pessoas para mais perto de Deus, Ele nunca desperdiça uma dor, não tenha a mesma atitude dos amigos de Jó. Saiba acolher, ore, abençoe essas vidas com a sua companhia e sim, ajude-as a encontrar conforto em Deus, mas esteja disposto a ouvir sem julgamentos ou conclusões precipitadas.

Muitos casos precisam de acompanhamento especializado, assim como qualquer outro tratamento médico. Nos compadecemos por pessoas que descobrem um câncer, mas conseguimos ser tão frios e indiferentes frente às tristezas e outros quadros clínicos que envolve a saúde mental. É a mesma coisa e ainda mais perigoso, pois o que tange as emoções tira a nossa paz, drena a nossa alegria e nos coloca em um poço de desespero, sozinhos. O tratamento é muito importante! Encaminhe, vá junto com a pessoa se for preciso.

Que o Senhor nos ajude a ter o que for preciso para cuidarmos uns dos outros e sermos sensíveis ao sofrimento daqueles que estão próximos a nós, quer seja em nossa comunidade de fé e naqueles que precisam ter a sua alegria restaurada em Cristo. Que como cristãos, possamos levar essa esperança a outras pessoas, sabendo que uma medida não exclui a outra. De Deusvem todo o conhecimento e Ele conferiu saber ao homem para que o cuidado e a cura alcancem aqueles que tanto precisam nesse mês e todos os dias.

domingo, 28 de julho de 2019

Eita! Amargou.


Essa semana eu fui visitada por um sentimento bem antigo que eu não sentia falta nenhuma... A amargura.

Eu não sei porque cargas d'água, antes de eu dormir, rodou um filme com os últimos piores acontecimentos que me magoaram bastante nos últimos anos. Eu fiquei tão triste. Acho que fiquei mais triste relembrando do que na época que aconteceu.

Fiquei pensando: "Por que eu deixei fazerem isso comigo?", "Por que tudo isso está vindo agora?", "Será que eu esqueci ou deixei de aprender alguma lição importante?". Veio um sentimento de culpa bem grande.  Estava pensando que não está em nenhum lugar na Bíblia que a gente precisa se perdoar. Maaaassss, está que devemos amar o próximo como a nós mesmos.

Amar inclui o perdão também, não é? Pois é. Então se serve para o próximo, deve servir para mim também. O difícil é que, tão forte quanto o pensamento sobre o que os outros fizeram é pensar que eu permiti e trouxe sofrimento para mim. Mas, calma! Nada acontece a toa. Aliás, aconteceu porque precisava. O sofrimento nos torna mais humildes (já me disseram) e o bife só amacia depois de levar muita martelada. Foi difícil, mas foi importante.

Tudo isso aconteceu de um dia para o outro, mas voltando para casa no dia seguinte, eu ainda fiquei matutando, "o que eu poderia fazer a respeito sem precisar dessas reprises de mal gosto?". Eu cheguei até a ler uma postagem aqui no blog sobre perdão e confesso que fiquei com vergonha.

Tem um versículo bíblico que diz, "...atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados." (Hebreus 12:15). A última postagem falava sobre se aproximar de Deus através do perdão, aqui o foco é outro, mas igualmente verdadeiro.

Vamos lá. A falta de perdão cria uma raiz amarga no nosso coração que, acredite se quiser, é profundo e contagioso. Gente amargurada resmunga, reclama de tudo e de todos e acaba amargando tudo e todos a sua volta. Neste final da semana eu estava parecendo uma velha rabugenta e tenho certeza que teve algo a ver com essas lembrancinhas do mal.

Acho que perdoar é mais difícil do que parece. Não é que nem descobrir um botão secreto na nossa cabeça que faz a gente superar, esquecer e ficar em paz o resto da vida. Acho que a gente precisa perdoar sempre. Sempre que as memórias quiserem visitar a gente no meio da noite, sempre que doer mais uma vez, sempre que esbarrar com aquela pessoa e por aí vai. Não tem fim.

Eu preciso perdoar quantas vezes forem necessárias e mesmo se doer de novo, vou perdoar de novo. Vou perdoar para vida continuar fluindo, para eu conseguir seguir em frente. Preciso ser fluente em perdoar, como se fosse um idioma novo que se eu não praticar, vou acabar esquecendo.

Espero poder perdoar mais, espero que essa postagem te ajude nas suas lutas e nas suas mágoas também. Tamo junto!

Grande abraço e até a próxima.

Lygia

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Maio Laranja



O dia é 18 de maio de 1973. Uma criança chamada Araceli Cabrera Sanches Crespo, de Vitória, Espírito Santo é brutalmente assassinada. Seis dias depois, encontraram seu corpo desfigurado com evidências de abuso sexual. Os dois principais suspeitos eram pessoas de famílias muito influentes que foram condenados apenas em 1980. Porém, após novo julgamento, foram libertos em 1991. No ano de 2000, o Congresso Nacional instituiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, exatamente na data da morte de Araceli.

Uma matéria realizada pela BBC Brasil no ano de 2018, revelou o caos no controle de denúncias de violência sexual contra as crianças. A matéria constatou que nenhum órgão mapeia essas denúncias e nem monitora o que acontece com elas, impossibilitando o acesso a dados estatísticos precisos. Na experiência clínica em atendimentos psicológicos, o número é expressivo, contudo, alguns pacientes só conseguem revelar que sofreram violência sexual na infância quando já estão na fase adulta.

Alguns motivos pontuados são: medo de que não fossem acreditar, receio em prejudicar a família, vínculo afetivo com o agressor (confusão e desorientação devido à idade em que o abuso ocorreu ou iniciou), sentimento de vergonha e culpa, sensação de que a família não irá entender e poderá responsabilizar a vítima, dentre outras razões.

O abuso sexual pode contribuir para o desenvolvimento de uma série de transtornos mentais que poderão acompanhar a pessoa por toda a sua vida. Podemos citar aqui problemas como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), dentre outros. As pessoas que sofreram agressão sexual na infância ou adolescência também podem se sentir desajustadas socialmente, podem se tornar inseguras, além de terem grandes dificuldades em se relacionarem afetivamente com outras pessoas, podendo também entrar em outros relacionamentos abusivos. Outro dado importante, é que muitas vezes as pessoas que sofreram o abuso sexual, já possuem algum histórico de outros casos que ocorreram na mesma família. Dados colhidos no Reino Unido constatam que mais de 90% dos abusos são causados por pessoas da mesma família.

Algumas crianças e adolescentes têm uma mudança expressiva de comportamento que são fortes indicativos de abuso sexual. Como por exemplo, demonstrarem medos que não tinham antes, como de escuro, de ficar sozinha ou perto de mais de outras pessoas. Também pode ocorrer uma alteração repentina no humor, de extrovertida para introvertida, de calma para agressiva. Sintomas de culpa excessiva, autoflagelação, até mesmo alguns casos de transtornos alimentares têm correlação com abuso sexual na infância. A criança pode apresentar um comportamento “regredido”, como fazer xixi na cama, ou comportamentos infantis que já havia abandonado. O fato de muitas vezes sofrerem ameaças físicas do agressor, pode fazer com que demonstrem um comportamento mais arredio e temeroso. A criança pode sofrer uma mudança brusca nos hábitos, como baixo rendimento escolar e isolamento. Também podem apresentar um comportamento mais sexual, envolvendo brincadeiras com terceiros.

Independentemente da idade da vítima, é importante que o ouvinte saiba como receber essa notícia. Primeiramente, atente apenas a ouvir, não tente solucionar imediatamente, o gesto da pessoa em contar já está sendo algo muito dificultoso. Pergunte sobre como ela está se sentindo e não tente diminuir a sua experiência diante de catástrofes maiores que venha a mente. Cuidado para não dar a entender, nem por um minuto que a pessoa tenha alguma parcela de responsabilidade pelo que aconteceu. Reagir de maneira violenta em relação ao agressor pode ser perigoso, ainda mais se é alguém próximo da vítima ou com vínculos familiares. Demonstrar indignação ou descrença pode prejudicar ainda mais, bem como espalhar para terceiros o que ouviu. Não faça fofocas. O acolhimento é necessário e é o início do processo de cura. Muitos podem recorrer a psicoterapia e acompanhamento com profissionais especializados para auxílio emocional.

Existem medidas eficazes que podem ser tomadas para auxiliar as vítimas, considerando, acima de tudo, que ela deva ser encorajada a falar e fazer o que for preciso nestas situações. Existem os telefones 190 (Polícia) e 181 (Disque Denúncia Anônima), que são linhas seguras de denúncia, cuja as ligações são registradas e gravadas para que haja o repasse correto para as entidades que encaminharão o caso. Também existe um meio mais ágil em termos práticos que é se dirigir ao Fórum de sua cidade e solicitar o promotor, que irá encaminhar a vítima imediatamente para realizar todos os trâmites necessários. Muito importante ressaltar que o crime de violência sexual contra a criança e adolescente, é um crime imprescritível, ou seja, mesmo que a vítima já tenha atingido a idade adulta, ela ainda pode denunciar o agressor que responderá pelo crime, independente de quanto tempo tenha passado.

É válido ressaltar a importância do acolhimento as vítimas e encorajamento para que essas crianças não cresçam com esse segredo, minando a esperança de um futuro melhor, com relacionamentos saudáveis, longe do perigo. Além de oferecer oportunidade de tratarem o trauma e terem resiliência frente aos demais desafios da vida. Que essas cicatrizes não definam um futuro sombrio, mas que mobilizem ações eficazes para mitigar os riscos para as gerações futuras.

Lygia Rolim Correia
Psicóloga

quarta-feira, 24 de abril de 2019

As Palavras tem peso


... já me disseram uma vez e fiquei refletindo muito a respeito dessa frase. Pensei também em provérbios que diz: "Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo."
(Provérbios 16:24)

Tudo o que falamos tem repercussão e muitas vezes ela é maior do que imaginamos, especialmente na vida de quem é mais chegado. Certa vez, falando para as mães dos meus alunos adolescentes, expliquei que o que uma mãe dizia para o filho iria repercutir durante toda a existência dele. Quando esses falharem ou sofressem alguma decepção, a primeira voz a vir a memória seria da mãe, ou de quem eles tem mais apreço.

Pensando nisso, olha que ferramenta preciosa temos nas mãos. As palavras são como sementes plantadas no coração de alguém que irá dar o fruto correspondente. Isso pode ser uma benção, como também uma maldição. Outro texto de Provérbios diz: "Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo."
(Provérbios 25:11)

A palavra bem falada em tempo oportuno é uma preciosidade. Em Colossenses 4.6 ainda fala: "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um."

Isso faz com que a gente possa parar para pensar um pouco, como tem sido as palavras para aqueles que eu amo e quero ajudar? O quão importante é o que eu digo para quem precisa de apoio e compreensão.

Muitas vezes machucamos querendo ajudar, é importante saber o que falar e o momento de falar, como vimos nos textos acima. Mais do que isso, precisamos nos responsabilizar dos efeitos que isso pode gerar na outra pessoa também.

Temos uma ferramenta poderosa em nossas mãos, ou melhor, na nossa boca.  Que possamos buscar sabedoria na hora de utilizá-la.

Grande abraço, até a próxima.

Lyli

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Pessoas machucadas machucam


Por que é importante curarmos as nossas feridas? Nunca um assunto foi tão recorrente em uma única semana. Eu já havia tratado deste tema com algumas pessoas e acho importante compartilhar algumas coisas, pois eu não quero que elas se percam ou eu esqueça. Melhor registrar enquanto ainda estão um pouco frescas na memória.

Algo importante que percebi é o quanto o meu estado de espírito interfere na forma como eu encaro as coisas. É bem simples, se eu estou bem, satisfeita e feliz, pode desabar o mundo a minha volta que eu puxo uma água de coco e me espreguiço. Agora se eu estou na bad, na pior, qualquer coisa me tira do sério, pode ser uma pomba fazendo um “pru” mais alto, ou uma coisinha de nada, meu sangue vai esquentando e quando vou ver já estou praguejando.

Praguejar e reclamar, e julgar e apontar erros, tudo isso fez parte da minha vida durante um bom tempo. Quando meus pais estavam se separando eram muitas brigas em casa. Não só entre eles, entre mim e eles também. Eu lembro que na escola eu tinha uma amiga que era bem despojada; ela era dura, mas na brincadeira. Certo dia eu cheguei para essa amiga e falei que não gostava do jeito que ela falava comigo e ela ficou assustada. Simplesmente não nos falamos mais, depois ficou meio ok, mas cada um no seu quadrado.

Mil anos depois eu encontrei essa amiga nas redes e mandei uma mensagem pedindo perdão, e explicando que era a época que eu mais estava machucada e que eu não diferenciava mais uma coisa da outra e tudo estava me machucando também. Ela respondeu que estava tudo bem e todos foram felizes para sempre. Fim.

Agora tente imaginar tudo isso em uma escala ainda maior. Imagine algo que sempre que você lembra, dói de novo e de novo? Você se sente assim em relação alguma coisa? Pois é, talvez você seja uma pessoa machucada também ou talvez algumas feridas ainda não cicatrizaram.

Qual é o perigo de manter uma ferida assim aberta? O perigo é você ferir outras pessoas, e geralmente são as mais próximas. Muitas vezes é sem perceber, o processo é bem mais inconsciente do que consciente ou premeditado. Nós conseguimos dar o que transbordamos, conseguimos dar o que temos. Existem pessoas que conseguem dar o que não tiveram, e isso é maravilhoso. Mas não é sobre isso que eu estou falando.

Manter uma ferida aberta dentro de você é permitir que ela crie raízes profundas no seu ser, tais raízes irão precisar de alimento e elas podem consumir a sua alegria, sua paz, sua vontade de estar com as outras pessoas. Tais feridas contribuem para que um vazio e uma dor comecem a crescer, tirando o sentido das coisas que antes eram tão prazerosas, mas que agora não tem cor.

O processo de olhar para dentro de si não é fácil, reconhecer os lugares escuros dentro de si pode ser uma tarefa amedrontadora, mas os fantasmas que sondam a nossa alma não se contentam em viver apenas dentro de nós, eles querem sair e muitas vezes ele saem em forma de ofensa, ou um descuido consigo mesmo pela falta de esperança, palavras duras sobre si, sobre os outros, sobre tudo. Pessoas feridas abrem feridas em outras pessoas, por isso é tão importante tratar essas feridas.

E como tratar? Eu poderia ser bem simplista dizendo para você fazer psicoterapia (sou suspeita para falar, aliás), mas antes é preciso reconhecer que existe algo embolorando seu coração e a sua mente.  Observe se as emoções estão controlando mais coisas do que deveriam. Dê ouvidos as pessoas mais próximas, inclusive se elas começarem a se preocupar. Você não precisa enfrentar tudo isso sozinho.

Algumas vezes entramos no círculo vicioso da culpa, começamos a ter comportamentos tóxicos, mas ao nosso ver, justificáveis e aí, mesmo que não seja o melhor, acaba sendo cômodo retroalimentar esse estilo de vida de novo e de novo. Culpa também machuca, a pessoa e quem está em volta. Culpa traz peso, mas não traz mudança de vida. Ela te acusa e você se conforma, é assim que ela funciona, te mantendo sempre no mesmo lugar. Cuidado com a culpa.

Tem um versículo que eu gosto bastante, ele me ajudou em muitos momentos: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas tu e tua descendência” (Deuteronômio 30.19).

Nós temos duas escolhas diante das nossas feridas, tratá-las, deixar Deus tratar, o psicólogo, psiquiatra, as pessoas que nos amam tratar, ou escolher viver de forma nociva para si e para todos a sua volta.

Grande abraço!
Até a próxima :)

Ly